T-4-2

Textos da Lusofolia

domingo, março 07, 2004

O DIA EM QUE VOEI...

Quando chegaram os bombeiros
com os tipos da GNR, avisados não
sei por quem cá da rua, desataram
a arrombar as portas todas pelas
escadas acima até chegar à minha.
Eu tinha entretano calafetado a porta
(por causa do pivete) e arrastado o
piano até lá só para não me acharem
demasiado colaborante. Uma herança
dos tempos da clandestinidade...
Da janela de trás, que dava para um
saguão e servia de vazadouro do
lixo, ensaiei o salto libertador.
Não sei porquê, e contrariando tudo
o que tinha lido, em vez de cair, abri
os braços e, espanto dos espantos!
Uma espécie de corrente de ar, quente,
pegou em mim e elevou-me sobre os
telhados.
-Bem, pensei eu, isto agora já não
depende de ti, há aqui uma qualquer
força estranha que te há-de levar a
algum lado.
Devia estar prestes a acordar...